Jorge Garcia faz um balanço da sua presença em dois dos maiores eventos do imobiliário em Portugal, analisando a situação do setor.
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Autor: Jorge Garcia, Especialista em Imobiliário
Diz a lenda que Galileu Galilei, depois de ter sido forçado pelo Tribunal da Inquisição a renegar que a Terra se movia em torno do Sol, teria murmurado “e no entanto ela se move”.
Nas últimas semanas, estive presente em dois dos principais eventos que constam do calendário anual da fileira da construção e do imobiliário: o Prémio Nacional do Imobiliário organizado pela revista “Magazine Imobiliário”, que contou com a participação de 28 empreendimentos nas categorias de Escritórios, Habitação, Empreendimentos Coletivos, Turismo, Projeto de Interiores, Reabilitação, Eficiência e Sustentabilidade, e o SIL - Salão Imobiliário de Portugal.
Na 25.ª edição dos “Óscares do Imobiliário” os vencedores foram “Icon Douro”, ”The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel”, “The Editorial Boulevard Aliados”, “Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel”, “Aqua Village Health Resort & Spa” e “Teatro Jordão e Garagem Avenida”, que venceu na categoria “Equipamentos Colectivos” e “Melhor Empreendimento do Ano”.
Mais do que premiar os que mais se destacaram pela qualidade da construção e reabilitação, uma merecida homenagem à dedicação e árduo trabalho de construtores e promotores imobiliários e à excelência dos engenheiros, arquitetos e outros profissionais envolvidos. Na edição deste ano, mais de 250 convidados partilharam o sonho de um Grande Homem, Joaquim Pereira de Almeida, a que duas Grandes Mulheres, Anabela Loureiro e Carla Celestino, deram continuidade. E foi também no primeiro dia do SIL que se registou o lançamento do livro “A Hora dos Vencedores”, que regista os 25 anos do “melhor empreendimento do ano”.
O Salão Imobiliário de Portugal abriu as suas portas para acolher os Presidentes das Câmaras Municipais de
Lisboa,
Santarém,
Seixal e
Loures, o Vice-Presidente da Câmara Municipal de
Matosinhos e o vereador da Habitação da Câmara Municipal do
Porto, que participaram no painel “os desafios da Habitação”. Oportunidade para os autarcas criticarem o facto de os
municípios não terem sido consultados e envolvidos nas medidas previstas no pacote “Mais Habitação”. Uma quebra de confiança entre Administração Central e Autarquias, que se estendeu aos
players do mercado imobiliário e ao investimento privado. Daí o generalizado
clima de desconfiança que se viveu este ano no maior evento do setor.
Por maior que tenha sido a vontade de transparecer normalidade e afirmar a capacidade empreendedora e de resiliência dos operadores presentes, este ano não se viveu o ambiente de celebração dos últimos anos. A preocupação com o futuro próximo foi a tónica dominante quando nada o antevia.
Quando anteriormente aqui nos referimos ao “pensar e agir ibérico”, foi uma confirmação. Muitos dos investimentos previstos na aquisição de imobiliário e no desenvolvimento de novos projetos de promoção imobiliária estão a ser desviados para a vizinha Espanha, nomeadamente para a Andaluzia. Os detentores de carteiras de clientes “golden visa” estão a estabelecer parcerias com operadores espanhóis no sentido de que os seus clientes internacionais possam concretizar as suas intenções nesses destinos. Também segundo a APR – Associação Portuguesa de Resorts, esta medida irá implicar a suspensão de mais de 600 milhões de euros de investimento em turismo residencial, previstos para os próximos dois anos. Algumas das sociedades de investimento e gestão imobiliária cancelaram as suas operações em Portugal.
De acordo com a ALP – Associação Lisbonense de Proprietários, 20% dos proprietários já retiraram os seus imóveis do mercado de arrendamento desde que foram anunciadas as medidas governamentais. E também na mediação imobiliária, assistimos a uma rarefação do setor com milhares de candidatos a uma carreira profissional que tarda em ser regulamentada.
O Programa “Mais Habitação” abalou a confiança do mercado e dos investidores. Mas é possível retomar o caminho. As empresas e os seus profissionais já demonstraram estar capacitados. É preciso construir, reabilitar e melhorar o desempenho energético dos edifícios, porque, no entanto, o mercado imobiliário “se move”.